ENTRE POLÍTICOS X PROCURADORES E JUÍZES PREFIRO OS POLÍTICOS

fonte da foto: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/2/2a/Urna_eletrônica.jpeg/1200px-Urna_eletrônica.jpeg

Primeiramente é preciso destacar que a comparação entre políticos e juízes e procuradores é estapafúrdia. E portanto só faz sentido em tempos estapafúrdios, em que procuradores e juízes são incluídos em pesquisas de opinião para cargos políticos como Senado, Governo do Estado e até Presidência.

Mas vamos raciocinar:

Juízes e Procuradores – generalizando – são bacharéis em Direito obstinados, inteligentes, estudiosos, determinados e sagazes que passaram por um complexo e dificílimo processo de seleção no qual saíram vitoriosos. Tirando a pesquisa burocrática e formal de bons antecedentes criminais, os concursos não apuram nada sobre sua sensibilidade social, senso de justiça, vocação para o cargo. Suas avaliações de desempenho ao longo da carreira dizem respeito a números, presença e alguma produtividade. Têm garantias de vitaliciedade e inamovibilidade. Se não praticarem um crime dificilmente deixarão a carreira contra sua vontade.

Normalmente, devido à nossa deficiência na educação pública e graças à nossa herança escravagista, são brancos de classe média – no mínimo. Essa característica elitista tende a se agravar com o passar dos anos. Num país instável e de poucas oportunidades, seus altos salários e benefícios fazem com que procuradores e juízes cada vez mais passem a ocupar um patamar na escada social bem próximo do topo. Os honestos, se nunca serão multimilionários, conseguirão certamente seu milhão em patrimônio sem grande dificuldade. Um bacharel de Direito de classe média que ingressa nas carreiras da Magistratura ou do Ministério Público automaticamente já sobe de classe social. E com o passar do tempo, seus hábitos de moradia, lazer, viagens, e seus gostos tendem (tendem!) a ficar cada vez mais elitizados.

Já com os políticos em geral é diferente. Apesar da força do capital nas campanhas, vemos no nosso Congresso (um espelho interessante de 513 pessoas na Câmara e 81 no Senado) gente de todo tipo. Sobretudo no que diz respeito à classe social. É claro que ainda existe um grave problema de representatividade e que salários,  privilégios e benefícios se equiparam ou superam àqueles relativos a magistrados e membros do Parquet. Mas há uma característica na democracia que faz toda diferença em relação aos políticos: a duração do mandato de 4 anos (8 no caso do Senado).

O pior facínora político que você consegue imaginar agora enquanto lê esse texto tem que se submeter a pedir ao povo uma oportunidade de conquistar um mandato. O mais arrogante, milionário e sacana candidato tem que fazer um exercício de humildade e percorrer bairros pobres, abraçar populares, comer a comida típica da localidade e PEDIR voto. Acredito que o mais antenado dos Juízes se tornará com o passar do tempo - se não sair do seu gabinete – menos sensível socialmente do que o mais elitista dos políticos. Pois por mais cínico que o cara seja, essa obrigação da eleição exige que ele percorra as regiões, conheça suas deficiências e atue para amenizá-las ou para fingir que as resolveu. E por mais que ele aja motivado pelos 10% de propina que ganhará num acerto criminoso com o particular executante da obra, quase sempre ele agirá para resolver algo real. Porque ele precisa pedir. Mostrar. Agradar. Sua vida é devassada numa campanha. Seu passado é exposto. Suas falhas são esmiuçadas. Já vi políticos arrogantes e poderosos bem “murchinhos” no dia seguinte após a perda de uma eleição.

E não vale comparar políticos corruptos com juízes honestos. Que se compare honestos com honestos ou corruptos com corruptos. Nem imaginar que há mais políticos corruptos do que juízes corruptos, por exemplo. Há 20 anos, quando ingressei na faculdade de Direito, a conversa nos corredores do Fórum era que havia poucos juízes realmente sérios. Honestidade não é uma questão de classe. No plano micro é uma questão de berço. Mas no plano macro a corrupção é algo que se combate com transparência, fiscalização e punição. E hoje políticos vêm sendo mais fiscalizados e punidos do que juízes.

É claro que  não há razão para compararmos políticos a procuradores e juízes. O Estado Democrático de Direito prevê um sistema de pesos e contrapesos e harmonia entre poderes e instituições. Todos são essenciais pra a democracia.

A ideia é fazer uma pequena provocação justamente a quem insiste em colocar juízes e procuradores como heróis acima dos políticos. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

8. A música do mês. Setembro. SEGURO

18. Hormônio ou essência

O CASAL (último capítulo)