34. Pequeno Ensaio Sobre O Trabalho Doméstico
fonte da foto: http://brincdeescrever.blogspot.com.br/2012/05/empreguetes-ja-sou-fa.html
A empregada doméstica
Deve ser tratada com ética
44 horas de labor
Como qualquer
trabalhador
Recebendo cada hora
extra
Realizada de segunda
a sexta
No sábado, apenas 4
horas
E depois, livre para
ir embora
Assim como eu, como você
Direitos para cumprir
o dever
Passo inevitável e
atrasado
De um país que um dia
quer ser civilizado
O trabalho doméstico no Brasil é herdeiro
de uma cultura escravocrata. Nós, empregadores, recebemos durante anos nas
nossas casas garotas de 16, 18 anos, que eram expulsas dos seus lares familiares
por não terem mínimas condições de sobrevivência.
Diante de uma vida subumana, sem
ter o que comer, elas fugiam da seca e da miséria de cidades pobres do interior
do país, para se refugiarem em “casas de família”, morando com gente
desconhecida, e longe do convívio dos pais e irmãos.
Ali, durante anos, receberam salários
mínimos que na época eram ínfimos, sem qualquer direito trabalhista, “devendo
se sentir gratas” por terem ao menos um teto com água corrente e comida para
sobreviver. Nessa moradia digna que ganhavam como “bônus” de seus empregadores,
verdadeiros cubículos sem janelas, não tinham direito de receberem visitas de
amigas ou namorados.
A verdade é que a classe média só
pôde usufruir desse tipo de mão de obra, enquanto ela era extremamente barata,
fruto da condição de miséria de milhões de brasileiros. Inevitavelmente, todo
país que cresce economicamente, vê sua mão de obra doméstica escassear e se
tornar mais cara, uma vez que uma maior oferta de emprego leva esses
trabalhadores a migrarem para trabalhos formais, com direitos trabalhistas
assegurados, em que possam ter uma jornada de trabalho decente, morando em sua
própria casa. A nova proteção trabalhista aos empregados domésticos não só
tornam mais dignas as condições de trabalho num país que quer se tornar mais
civilizado, como, aliás, assegura que ainda seja possível termos trabalho doméstico
no país. Pois caso continuássemos sem assegurar condições mínimas de trabalho
para esses empregados, não conseguiríamos mantê-los nos empregos, pois qualquer
outra oferta de trabalho, por menos qualificados que esses trabalhadores sejam,
seriam mais atraentes do que o salário doméstico.
Todo mundo sabe que em países
desenvolvidos a mão de obra doméstica é extremamente cara, usufruída por quem
realmente tem dinheiro, enquanto a classe média se vira com ajuda da tecnologia
e uma vida mais prática.
O
que está acontecendo no Brasil em relação ao trabalho doméstico é inevitável, e
espera-se, irreversível. Que possamos ter a inteligência de nos adequarmos à
nova realidade do país, que, no fim das contas, será melhor para toda
sociedade, em vez de ficarmos brigando com os fatos, tentando reproduzir nas
nossas vidas atuais a mesma realidade vivida por nossos pais trinta anos atrás.
Sds,
Hugo
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