29. Tirolesa


De longe víamos pessoas descendo pela tirolesa. Braços abertos, gritos eufóricos, uma curtição. Parecia muito bom! E fácil demais!

Da pousada, assistíamos todo o trajeto do salto. Da saída, no alto do morro, até a chegada, na beira da água. Logo bateu a vontade de irmos também. Planejamos que desceríamos no terceiro ou quarto dia da viagem.

Ao procurar informações, ficamos sabendo que não era só chegar e saltar: o salto custaria R$ 30,00. Sem problemas. Cabia perfeitamente no orçamento da viagem.

No dia previsto, com os tickets já comprados, lá fomos nós encarar a aventura. Chegamos até o começo do caminho que nos levaria ao alto do morro de onde era dado o salto. Apesar de sabermos previamente que teríamos que enfrentar uma subida, a caminhada exigiu um certo esforço. Nada demais, mas não era só chegar e saltar.

No caminho até o ponto do salto, cruzamos com um grupo que vinha descendo em sentido inverso, nos avisando que logo mais adiante haveria um mirante com uma vista incrível.

Dito e feito. Um pouco mais à frente nos deparamos com uma bifurcação com duas setas pregadas numa árvore. Na que apontava para esquerda estava escrito “mirante”. Na da direita, “tirolesa”.

Decidimos, obviamente, primeiro conhecer o mirante, já que o salto da tirolesa nos levaria de volta à praia, muitos metros abaixo.

De fato, o mirante dava acesso a uma vista deslumbrante. Estávamos há vários metros de altura (a altura informada é de 70 metros) defronte a uma visão do mar maravilhosa. O dia estava lindo, ensolarado, e o mar parecia ainda mais brilhante ali do alto. Momento para fotos e êxtase.

Só aquele momento já teria valido a caminhada. Independentemente do salto, já valia a pena encarar a subida para conhecer e desfrutar daquela paisagem.

Interessante como no caminho para concretizar certos objetivos, nos deparamos com algo inesperado, ou subestimado, que muitas vezes nos fazem mudar de planos e trocar de fim, no meio do percurso.

Mas não mudamos de ideia naquele dia. Passado aquele instante de fascínio, era hora de voltar à trilha original e seguir para a tirolesa.

Chegando ao ponto de salto, mais emoção.

O frio na barriga inicial logo se transformou em medo mesmo, para alguns de nós. A altura, as cordas, as roldanas, o visual, a base para salto, tudo aquilo trouxe uma sensação até então não vivida. Não era só chegar e saltar.

Ficamos um pouco apreciando a paisagem e observando algumas pessoas que se preparavam. Do grupo que fazíamos parte, três se mostravam bem tranqüilos enquanto os outros três ficaram meio hesitantes, eu entre estes.

Aos poucos fomos nos preparando para saltar. Os mais tranqüilos foram em frente sem pestanejar, posando para fotos sorridentes e seguros. Achei em certo momento que tanto desprendimento escondia o receio inevitável.

Após os quatro primeiro saltarem, ficamos eu e ela por último. Ela, hesitante, considerando desistir e eu, um pouco mais seguro, mas tentando demonstrar ainda mais segurança do que a que existia em mim.

Há momentos que temos que arranjar uma força não conhecida, uma coragem inexplorada, quando temos alguém que conta com a gente. Não pretendo superestimar o evento. Mas ali, dentro das proporções de medo e dúvida que a situação exigia, não pude lidar unicamente com a minha emoção. Tive que engolir meu medo para encorajá-la, pois sabia que ela iria se arrepender depois se não fizesse.

E não é que encorajá-la, acabou me ajudando a superar meu próprio medo?!

Assim, ela saltou primeiro, e logo depois eu!

O momento mais dramático são aqueles poucos segundos que precedem o salto. Amarrados e aparentemente seguros temos que dar impulso e nos jogar para o vazio do precipício. A segurança é aparente pois nunca poderemos ter 100% de certeza de que não haverá falhas. E ainda que fisicamente totalmente seguros, há a insegurança de se entregar a uma situação nunca vivida.

Mas, ainda assim, mergulhamos motivados pela determinação de concretizar aquilo que desejamos.

Passado o salto e toda emoção nele vivida temperada pela sensação gratificante de vitória, entendemos que, do conforto da pousada, tínhamos uma impressão limitada do que seria o salto da tirolesa. De lá, parecia fácil, simples, legal. De longe, nunca saberíamos as dificuldades, o medo, e a real emoção de viver o salto.

De fato, não é só chegar e saltar.

É muito melhor!



De fora tudo é mais fácil
Fala-se teoricamente
Descreve um quadro falso
Quem não fez efetivamente

Desejo não é realizar
Imaginar não é sensação
Mas para sair do lugar
Sonho, projeto e ação

É chegada a hora do salto
 Após esforço e percalços
Mesmo o vôo mais alto
Começou com o primeiro passo

O caminho revela surpresas
Barreiras, degraus e paisagens
Uma única certeza
Entregar-se à viagem

Do alto do precipício
Cara a cara com o medo
Pensamos em voltar ao início
Achamos que ainda é cedo

É legítimo desistir
Ninguém é igual a você
A mudança de um plano aqui
É um outro começo a viver

Mas há quem segue adiante
E decide pular da tirolesa
Emoção gratificante
Vitória sobre a própria fraqueza

Sds,

Hugo

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