14. Meio do Caminho

Do meio, as margens são o mesmo horizonte
A chegada à metade da ponte
Determinante: seguir ou voltar?
Do meio, as margens são o mesmo horizonte
Tanto pro lado de cá ou de lá

E pensando que a decisão crucial
Deu-se ao encarar a travessia
Mas passado aquele impulso inicial
Bate a dúvida, o cansaço, a apatia

Será melhor concluir a jornada?
Já que estamos aqui, seguir logo adiante
Ou seria melhor pegar outra estrada
Começando do zero com fôlego iniciante

Novo amor, novo curso, nova cidade
Novo jogo, nova equipe, sempre é nova, a paixão
É tão sabedoria desistir de uma atividade
Quanto insistir na mesma direção
 
Frequentemente vemos pessoas anunciando o início de uma nova caminhada: descrevem, entusiasmadas, a chegada do inédito desafio; ponderam, hesitantes, sobre os receios que as incertezas da mudança inevitavelmente trazem.

Também é bastante comum assistirmos os desabafos de quem chegou ao final de uma jornada: revela-se, com detalhes, como foi difícil alcançar o objetivo; contam-se os percalços e obstáculos superados para conclusão do projeto. Com emoção, celebra-se o fim de mais um ciclo.

Mas e o que acontece no meio do caminho?

Imagino uma ponte precária e extensa, digna de filmes de Indiana Jones, sobre um despenhadeiro terrível. A chegada ao meio da ponte é emblemática: qualquer passo dado adiante significará que o caminho mais curto para estar a salvo na margem do precipício é caminhando para frente e não mais voltando atrás.

A chegada à metade do caminho significa que, se seguirmos em frente, estaremos, a cada segundo, a cada centímetro, mais próximos do fim do que do início.

Talvez seja esta então uma ótima oportunidade para uma reflexão sobre tudo que já fizemos e tudo que estamos a fazer.

É no intervalo de um jogo de futebol, que os técnicos costumam fazer substituições, mudar a forma do time jogar; é lá pelos dois anos de curso, que muita gente opta por desistir de um curso de graduação e tentar outra carreira; imagino que após os quatro meses iniciais da gestação, aquele temor inicial de toda grávida se transforme em mais segurança até o nascimento da criança.

É claro que não se fala aqui em uma ciência exata e que existem inúmeros desígnios em que não é possível estipular o meio do caminho. Refletir sobre em que pé estamos em diversas questões da nossa vida é algo que fazemos o tempo todo consciente ou inconscientemente. Existem até aquelas datas especiais anuais em que a necessidade de uma olhada para dentro se torna mais evidente, como cada aniversário e o fim de ano.

Mas acho que o meio de uma caminhada por um caminho qualquer seja um momento interessante para respirar, olhar o tanto percorrido e o tanto ainda a percorrer, ver se queremos seguir adiante ou voltar atrás para pegar outro caminho; se devemos apertar o passo para andar mais depressa, ou diminuir o ritmo para contemplar melhor a paisagem...

Até porque, início e fim são apenas marcos. Na real mesmo, estamos sempre é em plena caminhada.

Sds,

Hugo

PS: Com a conclusão da música Mil Imagens, publicada na postagem imediatamente anterior a esta, meu plano de gravar 10 músicas em parceria com o arranjador Yonsen Maia chegou à metade. Já são cinco as músicas gravadas: Sentido, Unilateral, Panela, Seguro e Mil Imagens. Cada nova música gravada daqui pra diante demonstrará que estaremos mais próximos do fim do que do início. Hora de verificar os acertos, ajustar o que poderia ter ficado melhor, e, com certeza, celebrar pelo que já foi produzido. Hora de decidir que seguiremos em frente sim, aproveitando cada etapa vivida. E que venha “Superfície”, a música do mês que vem.


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